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VANUZA
VALADARES

Especialista em Gestão
Pública, Esposa e Mãe.

Persistência: o problema da violência política de gênero e raça no Brasil

O fenômeno da violência política de gênero e raça no Brasil é histórico e estrutura as bases de formação do país. Mesmo assim, vale conceituá-lo e destacar nossa opção por mudar o termo usado para relatar a última pesquisa do tipo desenvolvida e publicada pelo Instituto Marielle Franco. Em nossa última pesquisa, tratávamos da violência política contra as mulheres negras candidatas e trazíamos esse marcador para o título “A violência política contra as mulheres negras” (2020). Contudo, devido aos acúmulos do último ano — no qual o Instituto Marielle Franco esteve focado em atender e acompanhar casos de violência política contra mulheres negras cisgêneras, transexuais e travestis, todas elas parlamentares e defensoras de direitos humanos — observamos a necessidade de reforçarmos de forma expressa a dimensão da categoria gênero na definição que escolhemos de violência política. Intitular a pesquisa de “Violência Política de Gênero e Raça no Brasil” (2021), mobiliza-nos para a importância da observação em primeiro plano de vivências de mulheres negras, indígenas, quilombolas, mulheres cis, transexuais, travestis, pessoas intersexo e de outras identidades de mulheres invisibilizadas e negligenciadas, sendo o gênero e a raça desencadeadores principais dessa miscelânea de agressões.
Da mesma forma, continuar demarcando a dimensão de raça
também fez-se importante, em decorrência, da forma pela qual o racismo se apresenta na operacionalização da violência política. Em nosso entendimento, em consonância compreensão de Gonzalez (1983), o racismo, mesmo quando ocorre por omissão é capaz de definir os rumos da vida política institucional. Silva (2019), em estudo pioneiro sobre as dimensões da violência política de gênero e raça no Brasil contra prefeitas negras, pontua que a violência política: se torna um problema para o debate das mulheres negras e o poder quando não apenas sustenta as barreiras que impedem que essas ascendam à política, como também as limita, ou mata, quando
chegam a esses espaços — onde já são absolutamente sub representadas. (SILVA, 2019) A fim de analisarmos seus impactos, manifestações e ativos perpetuantes, mergulharemos na noção de que essa ação tem múltiplas abordagens analíticas, assim como um sentido multidimensional de causas e consequências. Para Torres García (2017), a violência é um conceito complexo e de difícil compreensão, a violência de gênero no âmbito político é 13 quais estão sujeitas as mulheres na sociedade que, por meio das regras que regulam a relação entre governantes e governados próprias das democracias modernas, manifestam-se no espaço político-eleitoral. Apesar da origem da violência de gênero perpetrada no contexto latino-americano contra defensoras de Direitos Humanos, em especial mulheres negras e indígenas, ser longínqua e suas formas de expressão arraigadas na história desses países, no âmbito político, ela ganhou visibilidade, reconhecimento e se tornou uma pauta de relevância apenas no século XXI. A partir do impulso por igualdade na América Latina promovido, principalmente, por meio dos consensos regionais adotados no início deste milênio (Consenso de Quito 2007, Consenso de Brasília 2010, Consenso de Santo Domingo, 2013 e a Norma Marco para consolidar a Democracia Paritária 2015), movimentos feministas, negros, do campo e outros tantos alinhados à defesa da democracia avançaram na disputa da pauta de visibilidade sobre o fenômeno da violência política de gênero e raça no aspecto institucional.

Fonte: https://www.violenciapolitica.org/2021-destaques