Ano passado tive uma experiência muito especial como coordenadora do projeto Jovens No Poder, pesquisa do Instituto Update que conversou e conheceu mais de 30 jovens brasileiros e brasileiras que estão inovando na política institucional e eleitoral. Com uma equipe também jovem (alô Pedro Lacerda, Jéssica Cerqueira, Jéssica Vanessa, Vinicius Lima, Bianca Freire, Rede Conhecimento Social, Politize! e data_labe), percorremos esse Brasil via Zoom, hangouts, Whatsapp e Instagram, realizando conversas inspiradoras sobre como é ser jovem na política, acompanhando o dia a dia, entendendo os desafios, as estratégias criativas dessa galera e revelando, principalmente, a necessidade de ter mais jovens representados na política para sonhar e desenhar futuros mais possíveis.
Piscamos o olho e 2022 chegou apressado e trazendo um desafio grande: aumentar a participação de jovens entre 16 e 17 anos no processo eleitoral, que, diga-se de passagem, é a menor em 30 anos. E, com isso, campanhas incríveis tomaram conta das timelines e trends: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entrando no TikTok, influenciadores explicando como tirar o título via internet – até as Army do BTS entraram na jogada. Com essa força-tarefa, o número de jovens que terão 16 ou 17 anos durante as próximas eleições e se cadastraram para tirar o título disparou. Em março, segundo o TSE, o salto foi de 45,63% em relação a fevereiro. Somados os três primeiros meses de 2022, 1,1 milhão de adolescentes se cadastraram para votar em outubro – um aumento de 25,4% em relação a 2018. E já não era sem tempo: nunca foi tão necessário e urgente virarmos o jogo.
Isso aconteceu porque, apesar das aparências, as juventudes brasileiras não estão longe da política – muito pelo contrário, como demonstrou a pesquisa Juventude e Democracia na América Latina, elas valorizam a política e a participação social. Com a chegada da internet e uso expressivo das redes sociais, as causas como igualdade racial, direitos LGBTQIA+, meio ambiente e muitas outras estão aumentando o engajamento político de jovens. A questão é que essa vivência política se distanciou das urnas, passando a acontecer principalmente nas mídias sociais.
Além da pandemia, que fechou os espaços de sociabilidade desses jovens (escola, rolezinhos, manifestações de rua), não podemos negar que as redes sociais digitais e os jogos se tornaram espaços essenciais para a interação, debate e conversas sobre a vida. E, se viver é um ato político, política também se discute, se conversa, se constrói. Mas como traduzir essas conversas informais, diárias, em propostas, em voto? Uma das formas que vimos na pesquisa Jovens No Poder é reconhecendo a política como ferramenta de transformação. Para isso, é necessário todo um trabalho constante de imaginação política, que começa no voto –e não termina aí. O caminho é longo, o processo é lento, mas também é cheio de aventuras e novos aprendizados.
A comunicação oportuna e necessária da campanha do TSE foi a fagulha que faltava para essa galera perceber que para a política fazer sentido no Instagram e no TikTok precisa antes fazer sentido nas urnas. Quando os jovens entendem que a política está mais próxima no dia a dia deles e delas, vão fundo. Quando a política aparece para eles e elas como espaço de possibilidades e afetos, de maneira divertida, empática, o jogo muda porque aí faz sentido votar, participar, acompanhar, fiscalizar. Convenhamos que isso faz sentido para todo mundo, né? Não só para os jovens.
Em um país onde a taxa de desemprego na faixa dos 18 a 24 anos é alta, o genocídio da juventude negra, periférica e trans é um caso de saúde pública e a educação pública e superior é precarizada, votar e participar da política é sinônimo de sobrevivência.
Na última pesquisa da plataforma U-Report, da Unicef e Viração, 63% dos jovens respondentes acreditam que o voto tem o poder de transformar a nossa realidade. Quando questionados sobre qual o principal motivo pelo qual tantos jovens ainda não tiraram o título de eleitor, 24% responderam que existe um desinteresse pela política institucional. Algo não está certo!
É preciso dar visibilidade a pessoas e, principalmente, jovens que estão inovando na política, ocupando os espaços com estratégias de mobilização e comunicação que reconheçam os desafios atuais da nossa sociedade e que transformem sonhos em políticas públicas que reduzam as desigualdades que interferem diretamente na nossa vivência, convivência e sobrevivência.
O seu, meu, nosso presente e futuro depende disso! Não são só os jovens que podem fazer isso, mas, com certeza, as juventudes brasileiras têm um papel fundamental para redesenhar e reimaginar a política que queremos.
Aproveite esses últimos dias para tirar seu título de eleitor/a. Aproveite este momento para acompanhar e conhecer pessoas jovens e inovadoras na política (aqui tem uma lista grande e em quase todos os cantos do Brasil). Aproveite essa oportunidade para mudar o seu, o meu e o nosso presente e futuro.
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